Se existe um impulso para a união de esforços com vista a ultrapassar dificuldades básicas que não possam ser resolvidos individualmente, a forma associativa para combater a pobreza e a exclusão é decerto uma das mais comuns e mais antigas. É certo que a modernidade, com o progresso e a democracia, trouxe a promessa de instituir sistemas de protecção organizados capazes de assegurar padrões de vida decentes para todos e eliminar o espectro da pobreza e exclusão. Mas essa promessa não foi cumprida, ou não foi suficientemente cumprida, até hoje.
A acção colectiva, cooperação ou associativismo voluntário para a defesa das necessidades básicas de existência são muito antigos e apresentam-se sob as formas mais diversas - entreajuda camponesa, mutualismo operário, filantropismo, caridade cristã, solidarismo republicano - e, decerto, adequadas aos diferentes contextos económicos, políticos e culturais.
O seu êxito dependeu sempre de muitos factores e, em sociedades menos urbanizadas como as nossas actuais, ele esteve positivamente associado à partilha de interesses e objectivos entre o colectivo, ao interconhecimento e à confiança mútua, à proximidade social e cultural, aos recursos mobilizados, à existência de lideranças aceites e à ausência de free riders.
Hoje, esse tipo de associativismo, que poderiamos qualificar de proximidade, esbarra com o fenómeno da individualização gerado em sociedades hedonistas e competitivas, com a indiferença pelo sofrimento e pela miséria banalizados pelos média, com a derrocada das instituições que sempre conhecemos e em que confiávamos, com um discurso político falsamente emancipador, e perde, assim, força e seguidores.
O grande desafiio que temos pela frente é reanimar o associativismo e a cooperação solidária e ajustá-los a um mundo feito de diversidades sociais e ocupacionais, de anonimato e desconhecimento, de vínculos esporádicos e contingentes, de multiplicidades culturais e étnicas, enfim de exigências conflituantes e de incertezas.
Tarefa difícil em que muitos estamos envolvidos e relativamente à qual algumas questões ganham de imediato pertinência:
- como mobilizar em torno de objectivos sociais pessoas que não se conhecem? como gerar a confiança necessária para a acção colectiva? Qual o cimento a usar para a mobilização - político?, religioso?, moral?, cívico? - e qual a sua valia?
- como alargar o espectro social do associativismo sem cair no filantropismo ou criar dependências clientelares? como envolver os destinatários das ajudas sem os degradar à condição de objectos? Como evitar que as associações se tornem em trampolins de promoção social e política?
- como promover acções consistentes, mobilizar recursos e promover inclusão de uma forma autónoma relativamente aos poderes económico e político? Como garantir a flexibilidade das respostas, a inovação e criatividade social e, ao mesmo tempo, evitar a institucionalização das associações na dependência do Estado?
- como assegurar, em simultâneo, a vida democrática da associação, a densificação das redes sociais e a participação incondicional dos destinatários? Como reorientar a força dos grupos primários e do associativismo de bairro para um associativismo de defesa de direitos sociais e de combate às desigualdades e às exclusões?
- como envolver e interessar as pessoas nos problemas das suas comunidades, dinamizar o espaço público da cidadania e aprofundar a democracia participativa através das associações?
A reflexão que proponho toma por base estas questões e faz apelo à experiência acumulada dos participantes, individuais e colectivos, para lhes dar resposta e contrariar, assim, o fatalismo em que a sociedade portuguesa se encontra mergulhada.
PH (CES)
1/11/2010
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,,,INSCRIÇÕES...NOVAS....?
ResponderEliminar,,FALEM..!!!!