sábado, 14 de setembro de 2013

Texto de José Manuel Vieira (basefut)-para o encontro de Palmela




PELO APROFUNDAMENTO DA DEMOCRACIA

A situação política, económica, social, relacional de Portugal saída do 25 de Abril de 1974, passados que são 39 anos, é quase irreconhecível. Num quadro de anomia geral da sociedade, somos forçados a fazer uma profunda reflexão sobre a estrutura, o funcionamento e o sistema constitucional vigente.
Com a constituição de 1976 e sucessivas revisões efectuadas (com o objectivo de uma adaptação à vida política e social do país) poderíamos considerar que no âmbito do sistema eleitoral para a Assembleia da República, as Presidenciais e as Autarquias, que as estruturas da democracia estavam lançadas e consolidadas. Porém, a jovem democracia portuguesa, particularmente com o eclodir da crise de 2008, tem revelado diferentes debilidades e várias deficiências que o próprio sistema não tem sabido debelar.
Muitos cidadãos já se deram conta que a democracia, tal como ela decorre nos dias de hoje, encontra-se enfraquecida, muito vulnerável, enferma, podre, não correspondendo às legítimas aspirações do povo português. Porquanto, o sistema, as instituições, os eleitos, o poder, não só não resolveram as gravosas situações pelas quais passa a população, como agravaram consideravelmente as desigualdades sociais, salvaguardando os interesses da elite económica, política e partidária.
Verifica-se, por um lado, uma apatia generalizada do povo pelas causas pública e de interesses do colectivo, por outro, os partidos enquistaram-se, afastaram-se da relação entre eleitos e eleitores, os governantes fecharam-se a tal ponto que houve um afastamento considerável entre aqueles que nos governam e as reais aspirações da maioria da população.
A indignação aumentou consideravelmente à escala do país e não só junto dos jovens, mas a nível da população em geral. É chegado o momento dos cidadãos tomarem consciência, acordarem, reagirem ao caos instalado no tecido social. É chegado o momento de ir mais além, de agir, ou seja de cada um contribuir para o aprofundamento desta mesma democracia, mudar este estado de coisas, onde os cidadãos possam participar na causa pública, na comunidade onde se encontra incorporado.
Assim, para que tal aconteça, os cidadãos têm de forçar a alteração da lei eleitoral, o método instalado, para que permita a que grupos da população integrados em movimentos cívicos possam candidatar-se em listas autónomas e independentes de partidos. Estes são essenciais na vida democrática mas não podem nem devem ser exclusivos. O poder tem de ser partilhado, inovado, para que não se caia em sistemas ditatoriais e/ou de democracias musculadas.
Nestas perspectivas, as motivações, os interesses de participação dos cidadãos poderão aumentar, pois tal como as coisas se encontram nas mãos do bloco central, nada atrai as populações participar e votar, só que quatro em quatro anos.
Os exemplos são mais do que muitos, começando pela abstenção e terminando no voto tradicional (de legislação em legislação). Este modelo está esvaziado, encontra-se esgotado. Há que encontrar alternativas no actual quadro político institucional.
Outro aspecto desta reflexão remete-nos para o método de controlo dos deputados pelos cidadãos, porquanto uma vez eleitos nas listas partidárias nunca mais ninguém os vê, nem os contacta. Poucos tomam a iniciativa de se aproximarem das populações que os elegeram. Importa encontrar a forma como corresponsabilizar os eleitos – têm de prestar contas a quem os elegeu.
Aliás, a tipologia de feitura de listas pelos partidos para os círculos eleitorais tem de se modificada, pois é inconcebível que as estruturas centrais dos partidos decidam que A, B, ou C serão os candidatos nas listas concelhias ou distritais, sem serem naturais da terra, desconhecendo por completo as populações, os seus problemas e as suas aspirações.
A causa pública pertence ao povo português, onde se incluem os partidos políticos, mas também os sindicatos, as associais de classe, os movimentos sociais, as organizações culturais, os clubes desportivos e todo o género de outras associações.
É pena que os eleitores honestos, válidos, independentes e competentes (que ainda os há) que se encontram motivados para contribuir para as mudanças, não sejam chamados, ou não possam intervir, e participar nos assuntos da colectividade.
José Manuel Vieira basefut

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