Olá amigos!
Esta é uma primeira tentativa de texto provocatório.Agradeço críticas, sugestões, ecos e acções.
Um abraço do António
NOTA PRÉVIA: “ PROVECACÇÕES “ é uma palavra nascida na preparação do Congresso do Associativismo e da Democracia Participativa. Resulta da combinação de três palavras que exprimem os passos do próprio movimento pelo Congresso: Provocação+ Eco+ Acções.
A cada um de nós compete provocar/desafiar os outros com as suas ideias e propostas, pretendendo-se que estas tenham eco nas reflexões que venham a ser feitas e partilhadas, sendo desejável que a provocação e o eco tenham como resultado palpável acções assumidas por nós próprios em torno da realização do Congresso e para além dele.
1ª Provecacção “ Eles “
“ Eles “ ditam as modas… Eles manipulam o movimento das bolsas… Eles controlam o mercado… Eles enriquecem à nossa custa… Eles sabem como fazer a guerra onde e quando lhes convém…
Não sei desde há quantos anos “eles” invadiram o nosso pensamento e as nossas frases como sujeitos abstractos e anónimos que vão presidindo à evolução dos nossos destinos.
Não se trata sequer daqueles protagonistas que todos conhecem dos écrans televisivos ou dos comícios, mobilizando multidões para actos eleitorais em que a democracia se contenta em delegar platonicamente um poder cada vez mais fictício. Trata-se, sim, de figuras que se movem na sombra dos bastidores, manobrando os cordelinhos de um imenso teatro de “marionettes”. E à medida que se generaliza o hábito de os designarmos por “eles”, elevando-os a um estatuto de semi-deuses, sentimo-nos cada vez mais pequenos e impotentes para interferir, não só no guião do realizador da peça teatral, mas inclusivamente no humilhante papel que nos compete representar.
2ª Provecacção “ Duas globalizações falsas gémeas “
E de súbito vem-me à ideia que talvez tenhamos começado a falar mais “neles” e “deles” a partir do momento em que surgiu aquela palavra grande, do tamanho do mundo, chamada “globalização”.
E ao pensar “globalização”, parece-me que há duas palavras homónimas (lembram-se?, são aquelas que se escrevem da mesma maneira mas têm sentido diferente). De facto, há uma “globalização” que nos diz que tudo tem a ver com tudo, que nos aproxima dia a dia do que antes era longínquo, que nos mostra que não podemos virar as costas ao resto do mundo, que nos apela a preservar o ambiente aqui e agora para que o planeta tenha futuro, que acorda em nós a solidariedade em relação aos seres humanos espezinhados nos seus direitos fundamentais, mesmo que vivam a muitos milhares de quilómetros da nossa terra, e que pode gerar movimentos de denúncia e revolta que alastram e acabam por conseguir mudanças transformando-nos em cidadãos do mundo.
Mas há também uma “globalização” homogeneizante e impositiva, a ditar as novas modas, a reproduzir brinquedos, e roupas, e hotéis, e tipos de comida, e músicas,e livros “best-sellers”, iguaizinhos por toda a parte, fazendo as pessoas esquecer-se ou até envergonhar-se daquilo que antes fazia parte da sua identidade cultural, parecendo mesmo que o preço da não exclusão social é o de consumir e usar estas coisas que nos tornam cada vez mais parecidos uns com os outros.
Dito de outra maneira, parece-me que a primeira “globalização” se movimenta do micro para o macro, de baixo para cima e se conjuga com os verbos conscientizar, ser solidário, desenvolver. A segunda move-se do macro para o micro, de cima para baixo, e conjuga-se com os verbos dominar, homogeneizar, consumir.
3ª Provecacção “ Entre redes sociais, reais e virtuais “
E à medida que pensava nestas coisas, apareceram-me mais duas palavras a querer entrar. São as palavras “real” e “virtual”. Mas, para lhes abrir a porta vou contar uma coisa que me aconteceu. Há cerca de dez anos, estive empenhado, com gente de diversos serviços e associações, na criação da Rede Social de Gouveia --- constituição de um Conselho Social de Acção Social, elaboração do Diagnóstico Social, discussão em torno das prioridades e formulação de um primeiro Plano de Desenvolvimento Social. Julgo que muita gente, em todos os concelhos do país, terá participado em processos semelhantes. Ora, nos últimos tempos, voltei a ouvir falar muito de Redes Sociais, mas não da de Gouveia e sim do Facebook, do Hi-Five,etc. Será isto um “sinal dos tempos actuais”? Naturalmente, ambos os tipos de Redes Sociais acima referidos têm o seu espaço e objectivos próprios. O problema está no risco de as Redes Sociais “macro” engolirem as “micro”, o que tem a ver, por exemplo, com a extinção progressiva dos espaços de vizinhança, dos grupos informais das associações locais e da interacção entre os membros da mesma comunidade, etc, enquanto proliferam relações entre pessoas longínquas, que até podem apresentar-se e imaginar-se mutuamente duma forma muito mais virtual que real.
4ª Provecacção “ Comunicação/Solidariedade/Produção”
E eis que na minha memória aparece o flash da recordação de um encontro, nos anos noventa, em que se abordava o estilo de ocupação dos tempos livres entre os jovens, e no qual me apercebi que estava a decair o investimento nas práticas de desporto e lazer com carácter colectivo ( desportos em equipa, grupos de convívio com iniciativas, etc); em contrapartida, aumentava o número de horas diárias frente à televisão, ou ouvindo música pelas ruas com auscultadores, ou ainda em jogos de computador e Playstation.
Nesse encontro, alguém dizia também que estas mudanças se associavam à maior tendência, entre os adolescentes, para o individualismo e para o consumismo, com prejuízo dos seus potenciais de comunicação interpares, de solidariedade e de investimentos produtivos.
Curiosamente, o meu cérebro “puxou” ainda por uma leitura recente para “casar” com esta memória de há uns doze ou quinze anos. Daniel Sampaio, na crónica “porque sim” (Pública, 18/07/2010 ) escreve em dado momento:--“ A oralidade está a perder-se nas famílias, onde se conversa cada vez menos; nas escolas, onde a burocracia ministerial e as dificuldades psico-sociais de muitos jovens fizeram perder o gosto de interacção livre professor-aluno e a alegria de muitos professores em ensinar; nas comunidades, onde se desvaneceu o prazer da tertúlia e se esgotou a solidariedade de vizinhança. As novas gerações, os “net-geners” de Don Tapscott, usam a televisão como música de fundo, enquanto abrem janelas no computador e fazem à pressa os trabalhos escolares”.
5ª Provecacção “ As Associações Livres “
No subtítulo deste texto fala-se em “associações livres”. Será isto apenas uma referência às sucessivas associações de ideias que servem de mote para as “provecacções” aqui expostas?
Ou haverá também a intenção de aproveitar o “trocadilho”,questionando sobre o grau de liberdade das associações de que eventualmente façamos parte? Que liberdade sobra para além da dependência de subsídios, do espartilho das leis e da burocracia, da pressão consumista e competitiva que nos rodeia?
Não esqueçamos que estas cinco provecacções estão incompletas. O texto apenas contem a primeira parte delas---a provocação. O desafio é sermos “nós” a enfrentar os “eles”, partilhando os ecos reflectidos a partir das palavras e apontando para acções capazes de se aventurarem no risco de “torcer o destino”.
Gouveia, 22 de Julho de 2010 António Cardoso Ferreira
Excelente António !
ResponderEliminarEspero k a Com. Prom. e todos oiçam os ECOS de ideias novas, k devem recentrar objectivos e temas Centrais do Congresso.
Ainda é tempo de, na base destas ideias, de reorientar o Congresso!
Espero..!
abrs.
zc .
REORIENTAR E REDIRECCIONAR
ResponderEliminarNOVO DOCUMENTO !